sábado, 30 de outubro de 2010

MÁXIMAS ANARQUISTAS

* Não há um abismo entre o pensamento e a ação. A concepção já é um começo de ação.

* Não há que se conquistar o poder, há que se destruí-lo. É tirano por natureza. Seja exercido por um rei, um ditador ou um presidente eleito. A única diferença no caso da democracia parlamentar é que os escravos tem a ilusão de escolher, eles próprios, o mestre que deverão servir. O voto os fez cúmplices da tirania que os oprime. Eles não são escravos porque existam mestres, mas sim, os mestres existem porque eles escolheram manter-se escravos.

* Votar é abdicar.

* Os que souberem despertar o espírito de iniciativa nos indivíduos e nos grupos, os que chegarem a criar nas suas relações mútuas uma ação e uma vida baseadas nestes princípios, os que compreenderem que a variedade, o próprio conflito, são a vida, e que a uniformidade é a morte, trabalharão não para os séculos futuros, mas verdadeiramente para a próxima revolução.

* O mais poderoso desenvolvimento da individualidade, da originalidade individual só pode produzir-se quando as primeiras necessidades de alimento e de moradia forem satisfeitas, quando a luta pela existência contra as forças da natureza for simplificada e quando o tempo não for mais tomado pela mesquinhez da subsistência cotidiana — a inteligência, o gosto artístico, o espírito inventivo, o gênio inteiro podem desenvolver-se à sua vontade.

* O reino social deve pautar-se por uma ordem que existencialize a igualdade, o auxílio, pois no mundo animal e humano, alei do apoio mútuo é a lei do progresso.

* Tudo quanto no passado constitui um elemento de progresso ou um instrumento de aperfeiçoamento moral e intelectual da raça humana, foi devido à prática do apoio mútuo, aos costumes que reconheciam a igualdade dos homens e os levavam a aliar-se, a associar-se para produzirem e consumirem, a unir-se para defenderem, a federar-se e a reconhecer como juízes, para resolver as suas querelas, somente os árbitros escolhidos de seu próprio seio.

* Sabemos que nós próprios não somos sem defeitos, e que os melhores dentre nós seriam depressa corrompidos pelo exercício do poder. Tomamos os homens pelo que eles são, e é por isso que odiamos o governo do homem pelo homem e que trabalhamos com todas as nossas forças para destruí-lo.

* Longe de viver em mundo de visões, e de imaginar os homens melhores do que são, vemo-los tais como eles são, e é por isso que afirmamos que o melhor dos homens torna-se essencialmente mau pelo exercício da autoridade, e que a teoria da “ponderação dos poderes” e do “controle das autoridades” é uma fórmula hipócrita, fabricada pelos detentores do poder para fazer o “povo soberano” - que eles desprezam – crer que é ele quem governa.

* O trabalhador sente vagamente que nosso poder técnico atual poderia dar a todos um amplo bem-estar, mas também percebe como o sistema capitalista e o Estado impedem em todos os sentidos a conquista desse bem-estar.

* Essa concepção e esse ideal de sociedade não são decerto novos. Pelo contrário, quando analisamos a história das instituições populares — o clã, a aldeia, a comuna, a união de ofícios, a guilda, e mesmo a comuna urbana da Idade Média, no seu começo — encontramos a mesma tendência popular para construir a sociedade nesta ideia; tendência que foi sempre entravada pelas minorias dominadoras.

(Piotr Kropotkin - geógrafo anarquista)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Expansão das Lavouras de Cana-de-Açúcar Ameaça Meio Ambiente

O agronegócio do biocombustível brasileiro quer pegar carona no futuro baseando-se na reprodução de um modelo do passado.

O primeiro ciclo iniciou-se em 1975. Para fazer frente à brusca elevação do preço do petróleo que afetou diversos países, reduzir a dependência externa e o consumo do mesmo, assim como para atender às demandas do mercado interno, o Estado incentivou a produção de etanol na forma de diversos subsídios (incentivos aos fabricantes de automóveis, instalação de destilarias e usinas, desenvolvimento de tecnologias, facilidade de aquisição de automóveis a álcool, etc.) num programa governamental denominado Pro-álcool. O final deste primeiro ciclo se configurou numa estagnação, pois, os preços do petróleo voltaram a cair, e a escassez de recursos governamentais para subsidiar a produção de álcool se desdobrou na dificuldade de abastecimento da frota de veículos. O programa foi marcado por uma série de críticas, principalmente pela expansão da plantação de cana-de-açúcar em substituição ao cultivo de alimentos, além da cana demandar solos férteis e de boa qualidade.

Hoje, a expansão da produção de cana-de açúcar é a tendência deste segundo ciclo do Pro-álcool. Diferentemente da década de 1970, o novo arranque na produção de álcool não se fez por meio de programa de governo, mas pela iniciativa privada. A preocupação com a produção do etanol ocorreu pela emergência de um potencial mercado externo, em vista da intenção da União Européia e dos EUA reduzirem o consumo de combustíveis derivados do petróleo. Assim, a produção para exportação seria um importante estímulo para o agronegócio da cana-de-açúcar. Estudos apontam que essa cultura vêm ocupando áreas prioritárias para conservação e uso sustentável do Cerrado que ameaçam a biodiversidade em estados como MG, SP, MT, MS e GO. Segundo dados do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento) de 2009, haverá necessidade do Brasil importar 7,75 milhões de toneladas de arroz e 5,5 milhões de toneladas de trigo até 2019.

A realidade atual do agronegócio do biocombustível brasileiro é uma grande ilusão e contradição, porque reflete a associação do grande capital agroindustrial (e financeiro) com a grande propriedade fundiária. O agrocombustível é um prolongamento da economia assentada na produção do petróleo ameaçada pela escassez, ou seja, serve à manutenção do sistema. Além da questão dos alimentos, o problema ambiental também se constitui num limite, pois, o cultivo da cana está fundado na monocultura que usa toneladas de agrotóxicos, e fertilizantes. Também verifica-se a realização de queimadas, erosão e exaustão dos solos e principalmente irrigação das culturas que demandam grande volume de água (100 litros de água para cada litro de etanol). Até 2030 serão produzidos mais de 2 bilhões de litros de água poluída. Isso sem falar da superexploração dos trabalhadores do campo que são mantidos em condições análogas à escravidão para aumentar os lucros dos “modernos” empresários do setor sucroalcooleiro.

domingo, 3 de outubro de 2010