segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Expansão das Lavouras de Cana-de-Açúcar Ameaça Meio Ambiente

O agronegócio do biocombustível brasileiro quer pegar carona no futuro baseando-se na reprodução de um modelo do passado.

O primeiro ciclo iniciou-se em 1975. Para fazer frente à brusca elevação do preço do petróleo que afetou diversos países, reduzir a dependência externa e o consumo do mesmo, assim como para atender às demandas do mercado interno, o Estado incentivou a produção de etanol na forma de diversos subsídios (incentivos aos fabricantes de automóveis, instalação de destilarias e usinas, desenvolvimento de tecnologias, facilidade de aquisição de automóveis a álcool, etc.) num programa governamental denominado Pro-álcool. O final deste primeiro ciclo se configurou numa estagnação, pois, os preços do petróleo voltaram a cair, e a escassez de recursos governamentais para subsidiar a produção de álcool se desdobrou na dificuldade de abastecimento da frota de veículos. O programa foi marcado por uma série de críticas, principalmente pela expansão da plantação de cana-de-açúcar em substituição ao cultivo de alimentos, além da cana demandar solos férteis e de boa qualidade.

Hoje, a expansão da produção de cana-de açúcar é a tendência deste segundo ciclo do Pro-álcool. Diferentemente da década de 1970, o novo arranque na produção de álcool não se fez por meio de programa de governo, mas pela iniciativa privada. A preocupação com a produção do etanol ocorreu pela emergência de um potencial mercado externo, em vista da intenção da União Européia e dos EUA reduzirem o consumo de combustíveis derivados do petróleo. Assim, a produção para exportação seria um importante estímulo para o agronegócio da cana-de-açúcar. Estudos apontam que essa cultura vêm ocupando áreas prioritárias para conservação e uso sustentável do Cerrado que ameaçam a biodiversidade em estados como MG, SP, MT, MS e GO. Segundo dados do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento) de 2009, haverá necessidade do Brasil importar 7,75 milhões de toneladas de arroz e 5,5 milhões de toneladas de trigo até 2019.

A realidade atual do agronegócio do biocombustível brasileiro é uma grande ilusão e contradição, porque reflete a associação do grande capital agroindustrial (e financeiro) com a grande propriedade fundiária. O agrocombustível é um prolongamento da economia assentada na produção do petróleo ameaçada pela escassez, ou seja, serve à manutenção do sistema. Além da questão dos alimentos, o problema ambiental também se constitui num limite, pois, o cultivo da cana está fundado na monocultura que usa toneladas de agrotóxicos, e fertilizantes. Também verifica-se a realização de queimadas, erosão e exaustão dos solos e principalmente irrigação das culturas que demandam grande volume de água (100 litros de água para cada litro de etanol). Até 2030 serão produzidos mais de 2 bilhões de litros de água poluída. Isso sem falar da superexploração dos trabalhadores do campo que são mantidos em condições análogas à escravidão para aumentar os lucros dos “modernos” empresários do setor sucroalcooleiro.

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